5 Pratos Típicos do UK que você tem que provar

A reputação da culinária britânica não faz dela um destaque entre os melhores lugares do mundo para se comer. Mas algumas refeições típicas são plenas de tradição e história, além de deliciosas. Veja a seguir cinco dos pratos que são parte da identidade do Reino Unido.

1. Fish and Chips

Um fish and chips tradicional dos pubs britânicos

Este é o prato mais tradicional do Reino Unido. Amplamente disponível, pode ser encontrado em praticamente qualquer lugar. Cafés, pubs ordinários, gastropubs, pequenas lojas de rua e restaurantes exclusivos de fish and chips oferecendo esse prato icônico estão disponíveis por toda parte no UK.

O fish and chips consiste em uma porção generosa de peixe frito – os mais usados são os peixes de carne branca como bacalhau fresco, merluza ou linguado –, empanado com uma mistura de farinha, maisena, fermento e cerveja, acompanhado por uma porção de chips (batatas fritas) e normalmente guarnecido por ervilhas, inteiras ou em purê, e um molho tártaro.

Criado na Inglaterra, pode ser considerado um exemplo de culinária fusion do século XIX, mesclando influências de imigrantes belgas e franceses, que inventaram a batata frita no século XVII, e judeus refugiados de Portugal e Espanha, que introduziram o peixe frito na Grã-Bretanha por volta da mesma época.

Há controvérsias sobre o local de origem da combinação. Por volta de 1860 John Lees vendia fish and chips em sua banquinha de madeira em Lancashire, no Norte da Inglaterra. Na mesma época, Joseph Malin, um imigrante judeu, abriu sua loja de fish ‘n’ chip no Leste de Londres.

O casamento funcionou perfeitamente, numa época que a dieta da classe trabalhadora era sem graça e pouco variada, tornando-se popular muito rapidamente, uma identidade da era vitoriana como os trens a vapor e a fumaça da revolução industrial. Em 1935 o UK chegou a ter 35 mil lojas de fish and chips. No mais recente levantamento, em 2009, foram registrados 10 mil estabelecimentos dedicados a esse prato.

Fish and chips gourmet

Imigrantes italianos que atravessavam a Inglaterra, percebendo as enormes filas nas lojas de fish and chips, perceberam a oportunidade e inauguraram a tradição no restante do Reino, abrindo lojas na Escócia, País de Gales e Irlanda.

Para manter o preço do prato popular, outra tradição foi associada à refeição: a embalagem em jornal usado para takeaway, que durou até 1980 quando foi considerada insegura.

O fish and chips tem tanta relevância para o Reino Unido que foi uma das poucas comidas que não foram sujeitas ao racionamento durante as duas guerras mundiais. É considerado um fator importante para a vitória na Primeira Guerra Mundial, mantendo o moral das famílias envolvidas nas diversas frentes domésticas, fazendo que se sentissem com um pouco do conforto que tinham na vida durante os perídos de paz, algo em que a Alemanha falhou.

O prato já foi o rei absoluto do takeaway, tendo perdido espaço recentemente para burgers e outros tipos de junk food, que se tornaram predominates com as chegadas de grandes redes de fast-food, além de frituras serem consideradas pouco saudáveis. Mas vem recuperando espaço à medida que os consumidores locais são apresentados a informações que indicam que o prato é menos nocivo em calorias e gordura que seus rivais.

No Reino Unido o preço praticado para o fish and chips fica em torno de £8.

2. English Breakfast

Full English breakfast

Esse breakfast não é o que se chama de café da manhã no Brasil. É muito mais uma refeição completa: bacon, linguiça, ovos, black pudding (a comparação mais próxima é com morcilha), feijões em molho de tomate, hash browns (fritata de batata), cogumelos e tomates assados acompanhados de torradas e chá ou café são componentes comuns na maioria de suas versões.

Conhecido pelos locais como “full English” ou “fry up”, em contraste com o “continental breakfast”, com que estamos habituados no Brasil, é servido em muitos pubs tradicionais e em vários cafés por todo o Reino Unido. É tão popular que alguns deles oferecem a refeição o dia todo.

English breakfast completo

Tem variações nas diferentes nações, podendo ter haggis na Escócia, laverbread (um pão com algas) no País de Gales e ser mais generosa na Irlanda do Norte. Sua denominação também acompanha essa variedade: “full Scottish” (Escócia), “full Welsh” (País de Gales), “full Cornish” (Cornualha), and “Ulster fry” (Irlanda do Norte).

Surgiu como uma tradição nacional no século XIII, como um costume das famílias da pequena nobreza anglo-saxã de mostrar sua hospitalidade oferecendo refeições saudáveis a seus visitantes, parentes e vizinhos.

Ficou muito popular na Inglaterra e Irlanda durante a era Vitoriana, com a emergência de uma próspera classe média, nos encontros sociais, caçadas e finais de semana. Logo tornou-se uma instituição nacional, adotada pela classe trabalhadora como uma refeição que os sustentaria ao longo do dia de trabalho da Revolução Industrial, uma marca registrada que pode ser encontrada hoje em vários lugares do mundo.

No Reino Unido esta refeição é encontrada em média por £8.

3. Afternoon Tea

Um colorido e exuberante afternoon tea

Outra tradição vitoriana, poucas experiências podem ser tão características do Reino Unido como o afternoon tea. Embora repleta de delícias locais, é considerada uma refeição leve, tradicionalmente realizada entre 3h30 e 5h00 da tarde.

O costume foi primeiro observado entre as classes sociais mais abastadas da Inglaterra nos anos 1840, quando os jantares se tornaram mais tardios. Sua invenção é atribuída à Duquesa de Bedford, Anna Maria, como uma refeição no final da tarde quando visitava o castelo de Belvoir em Leicestershire. No final do século XIX tomou a forma atual e foi adotado pela classe média também, mesmo nos vilarejos mais remotos do país.

É tradicionalmente servido em bandejas de três andares: no mais baixo oferece delícias salgadas, tipicamente canapés e sanduíches de pão sem casca cortados em triângulos com as mais apetitosas variações de recheio, do tradicional presunto e queijo a salmão defumado; no segundo vem os bolos e scones (um tipo de bolinho mais denso e menos doce que os tradicionais), com manteiga, nata, mel e geleias; no último, docinhos delicados de confeitaria, de chocolate, frutas e suas variações. E todas as possíveis criações em torno dessa ideia, acompanhadas de chás ou espumantes. Um encontro social em torno dessa refeição é chamado de tea party.

A experiência pode ser realizada em cafés tradicionais, algumas confeitarias e em hotéis chiques. Quase que invariavelmente o local representa um papel fundamental nesta experiência: o ambiente, a decoração, o serviço e, em alguns casos, a vista do local fazem toda a diferença, agregando sofisticação e exclusividade. Por exemplo, um afternoon tea no restaurante da National Gallery oferece como acompanhamento uma vista esplêndida da Trafalgar Square até Westminster e a London Eye.

Uma variação mais light típica da Cornualha e Devon é o cream tea, onde o chá é acompanhado de scones, nata e geleia.

O afternoon tea é uma experiência clássica imperdível.

Seu preço é tão variado quanto suas configurações e de acordo com o local escolhido. Pode custar de £15 até £80, nos lugares mais sofisticados.

4. Sunday Roast

Sunday roast de porco

O prato típico tradicional de domingo que reúne as famílias britânicas em torno de uma mesa de almoço, em casa ou nos pubs, também é chamado de Sunday lunch, roast dinner, full roast e Sunday joint. A refeição é tão relevante para a cultura do Reino Unido que uma pesquisa em 2012 revelou ser a segunda de uma lista de coisas que as pessoas mais amam na Grã-Bretanha. Os nativos a comparam a uma versão simplificada do tradicional jantar de Natal. Também é popular em várias regiões da Irlanda.

O Sunday roast tipicamente reúne uma generosa porção de carne assada (um corte de carne de gado, porco, ovelha, frango ou peixe), batatas assadas ou purê, Yorkshire Pudding (uma espécie de omelete de claras assado), vegetais assados ou grelhados, como cenoura, abóbora, batata-doce, couve-flor, couve de Bruxelas, ervilhas, vagens e brócolis, além de molhos típicos, como o de menta e creme de espinafre.

Sunday roast vegetariano

Sua origem está ligada às tradições religiosas inglesas, como uma vasta refeição servida após a missa de domingo, uma tradição observada em toda a Europa e outros países cristãos. A combinação inglesa, porém, é única. As regras religiosas observadas pelos anglicanos e católicos ingleses de jejuar antes das cerimônias religiosas de domingo para depois desfrutar de uma vasta refeição criaram vários pratos tradicionais no Reino Unido. A presença predominante de carne no Sunday roast é atribuída à abstinência de carne observada na sexta-feira.

Assim, enquanto se preparavam para ir à igreja, as famílias colocavam um pedaço de carne para assar no forno. Antes de sair, acrescentavam os vegetais (batatas, nabos, parsnips, cenouras). Ao retornar da missa a refeição estava quase pronta. Os sucos da carne com os vegetais eram então usados para fazer um caldo ou molho que era despejado sobre os assados.

Outra versão conta que, nos vilarejos ingleses medievais, os servos se reuniam no domingo em um campo para praticar suas habilidades em técnicas de guerra e eram recompensados com um festival de carne de gado assada em espetos.

Desfrute desta experiência. Um domingo no Reino Unido só será completamente autêntico depois de um Sunday roast.

5. Cornish Pasty

Cornish pasty

Este prato se assemelha a um enorme pastel de massa amanteigada assado, parece um pouco com a empada brasileira. A versão que se tornou típica da Cornualha (Cornwall) é um círculo de massa preenchida com ingredientes crus para o recheio e fechada à mão, criando uma borda bem consistente, antes de ir ao forno.

A Cornish Pasty tradicional possui o status de Protected Geographical Indication (indicação geográfica protegida) na Europa desde 2011. Seu recheio típico é carne de fraldinha picada, batata fatiada ou ralada, swede (um legume entre o nabo e a cenoura) e cebola, além de muitas outras variações, desde porco, queijo e vegetariana até maçã. É a comida mais associada com a Cornualha, considerada o prato nacional dessa região da Inglaterra e responsável por 6% da fatia de alimentação da sua economia.

Cornish pasty em Marazion

Foi popularizada para além da Cornualha por seus mineiros e marinheiros, que se espalharam pelo Reino Unido e pelo mundo. As primeiras referências sobre o prato são do sec. XIV, em documentos sobre hábitos da nobreza e das classes mais ricas. A partir do sec. XVII tornou-se uma refeição adotada pelos mineiros de estanho, porque sua forma  única oferecia uma refeição completa que podia ser carregada facilmente e consumida sem talheres. Ainda, em uma mina a massa densa dobrada da pasty a mantinha aquecida por várias horas. A borda grossa engendrou a lenda de que os mineiros a adotaram porque podiam segurá-la enquanto comiam a parte com o recheio sem lavar as mãos, descartando essa parte no final da refeição. As fotos antigas mostrando como os mineiros as comiam exibem a Cornish Pasty embrulhada em papel enquanto era consumida até o final, não apoiando, portanto, essa deliciosa história.

Nenhuma visita à Cornualha será plena sem a experiência de uma Cornish Pasty.

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