Porque a Cornualha é totalmente imperdível

Como a Jéssica costuma dizer, a Cornualha é o mais próximo que você pode estar do Brasil no UK. Embora seja uma declaração metafórica, que se refere ao microclima e à geografia da região, também faz sentido literalmente. Localizada no extremo sudeste da Inglaterra, a oeste de Devon, rodeada pelo mar Céltico (uma parte do Oceano Atlântico) e pelo British Chanel ao sul, é praticamente uma ilha. Isso faz de sua costa uma das suas mais relevantes atrações. Além da sua história lendária, sua culinária, seu povo, sua identidade, seu clima… uma identidade notável dentro da Inglaterra.

Sua cultura única, uma das identidades celtas no Reino Unido, como um reino Bretão, é tão consistente a ponto de reivindicar o status de nação dentro do UK, como a Escócia, Wales e Northern Ireland.

O condado é repleto de paisagens de campos selvagens, litoral lindo e cheio de surpreendentes variações, vilarejos atraentes, nomes de lugares derivados da língua Cornish e seu clima subtropical temperado, único no Reino Unido. Muitas de suas áreas são reservas protegidas como Area of Outstanding Natural Beauty – AONB – (área de excepcional beleza natural).

O nome Cornwall provavelmente deriva do nome de uma tribo – Cornovii – que se acredita significar “povo chifre”, uma referência à forma geográfica de sua localização no final da península sudoeste. Os anglo-saxões adicionaram ‘Wealas’, que significa “estrangeiros”, além de ser também uma derivação do nome do vizinho País de Gales – Wales.

Os primeiros povoamentos humanos identificados na região datam de 10.000 AC.

Alguns dos destaques top da Cornualha são:

The Land’s End

O fim da Terra (inglesa)

A modéstia inglesa batizou de ‘Fim da Terra’ o extremo oeste da Inglaterra, situado na península de Penwith, a pouco mais de 20 Km de Penzance. É um complexo turístico com belezas naturais exuberantes, como as dramáticas falésias de granito cujas formações, na costa e dentro do mar, criam paisagens magníficas.

Visitado por turistas britânicos e estrangeiros há mais de trezentos anos, também é ponto de partida (ou chegada) da jornada ‘end to end’, que o conecta com John o’Groats na Escócia, o ponto extremo ao norte do Reino Unido “continental” (que não inclui as ilhas Orkey e Shetland, partes da Escócia).

Na Cornualha também está localizado o ponto mais ao Sul do UK, chamado The Lizard.

Tem a lenda do Rei Arthur

O icônico Tintagel Castle é conhecido como a sede do lendário reino de Camelot, onde o Rei Arthur teria nascido e governava com seus cavaleiros e a corte da Távola Redonda. Mesmo que não seja verdade – o castelo foi construído no Séc. XIII e a lenda do Rei Arthur acontece 500 anos antes, embora existam vestígios de construções dos Séc. VI e VII – a localização dramática das ruínas do castelo são uma das atrações imperdíveis da Cornualha, incluindo a Caverna de Merlin.

Outras paisagens também são associadas à lenda, como Dozmary Pool, um lago que alguns identificam como o local onde a espada do Rei Arthur, Excalibur, foi jogada por Sir Bedivere para a Dama do Lago após a morte do rei.

Muitas praias lindas

A espetacular Sennen Cove Beach

A principal imagem que os ingleses tem da Cornualha é de um litoral ensolarado, cheio de praias de areia e surf. A península é banhada na costa norte pelo Mar Celta (oceano Atlântico) e no sul pelas águas do English Channel (Canal da Mancha). A linha litorânea do condado mede 697 km, a maioria ocupada por enormes falésias, mas intensamente recortada por ilhotas, enseadas, baías e formações rochosas vertiginosas.

Ali estão várias das praias mais lindas do UK. Algumas delas são Sennen, na baía de Whitsand, Godrevy, Praa Sands, Perranporth, Marazion, Porthmeor, em St Ives, Kynance Cove – perto de Lizard Point –, Porthcurno, Harlyn Bay e Mawgan Porth, em Newquay, paraísos inesperados do Reino Unido. Além da beleza estonteante, a Cornualha é uma das partes do país com mais horas de sol durante o ano.

Tradição culinária

Um scone cheese com vista

O condado se caracteriza pela pesca e agricultura, os principais ingredientes de sua notável culinária. A Cornish pasty é hoje lendária, com seu surgimento atribuído à necessidade de alimentar de maneira prática os trabalhadores da mineração, outra atividades econômica relevante na história da Cornualha (veja mais nesse blog: https://uk4uexperiences.co.uk.gabiras12.com/5-pratos-tipicos-do-uk-que-voce-tem-que-provar/.)

Alguns outros pratos notáveis da sua tradição gastronômica são, além das pasties, os cream teas, os saffron buns e a Cornish Heavy (Hevva) Cake.

Mas o que realmente se destaca atualmente é a enorme popularidade da cozinha baseada em seus frutos do mar e a abundância de restaurantes de qualidade, ancorados na disponibilidade e na excelência dos produtos locais frescos.

Muitos chefs tem seus restaurantes instalados na região, como Rick Stein, Paul Ainsworth, Nathan Outlaw, Michael Caines, Jude Kereama e Kevin Viner. Há 41 restaurantes estrelados pela Michelin na Cornualha.

A região produz renomadas cervejas do tipo Fine Real Ale, além de vinhos e hidromel.

Arte

Tate St Ives

St Ives, no extremo oeste da península, é um polo de atração de artistas. Inúmeros artistas britânicos residiram na cidade desde o Séc. XIX. Por conta da produção artística local, a Tate Gallery inaugurou, em 1993, uma galeria na cidade dedicada aos artistas britânicos modernos que tem ligações com aquela região. Conhecido como St Ives School, um grupo de artistas começou a se formar na cidade a partir do final dos anos 1800 e continuou seu ativismo artístico ao longo do Séc. XX.

Outra galeria gerenciada pela Tate é o Barbara Hepworth Museum and Sculpture Garden, que foi a última residência e showroom da escultora Barbara Hepworth, tendo vivido nesse local durante seus últimos 26 anos de vida.  

Piratas

Alguns se escondem em Land’s End

Muitas das histórias da mitologia da Cornualha derivam de contos de piratas e contrabandistas que prosperaram na região a partir do início da Idade Moderna até o Séc. XIX, favorecidos pela extensão da costa marítima. Os piratas exploravam seu conhecimento do litoral, aproveitando-se dos refúgios oferecidos por riachos protegidos e ancoradouros escondidos.

Para muitas vilas de pescadores, saques e contrabando fornecidos por piratas apoiaram uma economia subterrânea forte e secreta na Cornualha. Uma das mais belas praias, Sennen Cove, quase no extremo oeste da Inglaterra, ainda celebra a tradição de piratas, contrabandistas e saqueadores que se reuniam e refugiavam no pub The First and Last Inn. Nele existe um túnel secreto que o conecta com a praia, permitindo que seus “clientes” evitassem as autoridades. A entrada do túnel pode ser visitada, coberta por uma parede de vidro. Aproveite a comida e as ales também, muito populares entre os locais.

Walking paths

Os caminhos passam pelas matas subtropicais típicas da Cornualha

Como em todo o UK, a tradição de hiking e trekking é uma das mais relevantes para seus visitantes, locais ou estrangeiros. Os caminhos são bem cuidados, sinalizados e desenhados para explorar ao máximo as belezas naturais e as paisagens extraordinárias da Cornualha.

Só o trecho na península da Cornualha do South West Coast Path, a maior trilha nacional do Reino Unido, tem quase 500 km de uma incrível variedade de trechos.  Pelo interior do condado há mais de 3.800 km de caminhos.

As trilhas da costa norte passam por lugares selvagens e varridos pelo vento, com alguns trechos tão isolados que é possível caminhar horas sem encontrar mais que meia dúzia de pessoas. Cenários com monumentos neolíticos se espalham por este exigente trecho das trilhas, que passa também por penhascos íngremes de mais de 100 metros de altura e mergulha em inúmeras enseadas rochosas remotas, onde, se você tiver sorte, verá colônias de focas cinzentas amamentando seus filhotes.

Ruínas tombadas pela UNESCO, memórias do passado histórico de mineração da região, embelezam as caminhadas pela Cornualha, junto com castelos, parques e vilarejos pitorescos.

Monte St Michael

O Monte St Michael em seu momento ilha

É uma das paisagens mais icônicas da Cornualha. Quando a maré sobe, o Monte St Michael, em frente à praia de Marazion se transforma numa ilha, um cenário místico com um antigo mosteiro transformado em castelo pela família St Aubyn, que o habita desde 1650.

Quando a maré baixa, surge um caminho pavimentado com granito ligando a praia à ilha, percorrido então pelos seus visitantes.

O Monte St Michael é a contraparte da Cornualha para o ainda mais famoso Mont-Saint-Michel da Normandia, na França, que tem as mesmas características de estar numa ilha formada pela maré e seu formato cônico, embora seja bem menor, tendo sido concedido para a ordem dos Beneditinos pelo rei Eduardo, o Confessor, no Séc. XI.

O formato místico do Monte St Michael é atribuído pelas antigas lendas inglesas ao trabalho de gigantes, relatadas em manuscritos na língua da Cornualha medieval.

Eden Project

As inacreditáveis biosferas do Eden Project

É uma extraordinária obra humana de recuperação do ambiente natural da Cornualha e de recriação de ecossistemas do planeta em uma cratera, a ruína de uma mina de argila esgotada.

Formado por um conjunto de biosferas que reproduzem a selva tropical, a vegetação mediterrânea, ambientes desérticos, jardins, pomares e obras de artes relacionadas à natureza, é um monumento em homenagem à biodiversidade do planeta Terra e um manifesto de esperança na capacidade humana de preservar e recuperar os ambientes naturais que a civilização vem devastando desde que surgiu. Magnífico em sua beleza e extraordinário em sua ousadia, é uma das atrações mais visitadas da Cornualha.

Lost Gardens of Heligan

Como um jardim como esse pode ser perdido?

Os jardins perdidos de Heligan são outra obra espetacular de recuperação e preservação da beleza natural da Cornualha. Esquecido no tempo desde o início da Primeira Guerra Mundial, foi despertado novamente em 1990 para se tornar o maior projeto de restauração de jardins da Europa.

São mais de 80 hectares de um espetáculo que exibe a vida selvagem, a vegetação nativa e jardins inusitados.

Quando estalou a Primeira Guerra, os trabalhadores que mantinham Heligan, um conjunto de plantações e mata nativa e exótica cultivado desde 1200, quase um jardim botânico particular, foram convocados para lutar nas trincheiras da Europa continental e a maioria jamais retornou. Até 1970 permaneceu intocado pela especulação imobiliária, quando foi adquirido e dividido para a construção de apartamentos.

Após um furacão devastador em 1990, os restos de um pequeno quarto foram descobertos nas ruínas de uma casa de fazenda, num canto de um jardim murado. Inscrições dos trabalhadores que o deixaram em 1914 despertaram as memórias e o interesse pelos gloriosos jardins abandonados e escondidos, de forma a trazê-los de volta ao seu esplendor original, com foco não em seus nobres ex-proprietários, mas nas pessoas comuns que o construíram e mantiveram.

Próximo ao vilarejo de Mevagissey, é um dos mais populares jardins do UK. Aberto ao público a partir de 1992, os jardins incluem gigantescos e idosos rododendros e camélias, uma série de lagos, jardins e hortas altamente produtivos, um jardim estilo italiano e uma área selvagem repleta de xaxins subtropicais chamada “The Jungle”. Também exibem duas lindas esculturas de pedras e plantas conhecidas como Mud Maid (donzela de lama) e Giant’s Head (cabeça do gigante).

Parte da equipe que realizou a restauração dos Jardins Perdidos de Heligan criou, logo em seguida, o Eden Project.

Um passeio perfeito para se sentir vivo e conectado com a natureza, um paraíso na terra.

Teatro Minack

A esplêndida obra de Rowena Cade

A história da construção do Teatro Minack é uma epopeia pessoal. Além de uma paisagem absolutamente deslumbrante, num local absurdamente extraordinário, que remete às paisagens da Grécia ancestral.

O Minack Theatre é um anfiteatro a céu aberto construído sobre uma ravina de um penhasco de granito rochoso que se projeta sobre o mar, em Porthcurno, a 6,4 km de Land’s End. O teatro funciona entre maio e setembro, sendo frequentado por mais de 80 mil pessoas por ano. Ele tem tido presença frequente na lista dos teatros mais espetaculares do mundo, e realmente é.

O Minack Theatre é uma criação da inglesa Rowena Cade, que se mudou para Minack Point, na Cornualha, depois da Primeira Guerra Mundial. Em 1929 um grupo do vilarejo local encenou Sonhos de uma Noite de Verão, de Shakespeare, em um prado nas proximidades, repetindo o evento no ano seguinte. Decidiram que a produção do ano seguinte seria A Tempestade e Miss Cade ofereceu o jardim de sua casa, que era à beira do penhasco que terminava no mar. Com seu jardineiro, construíram terraços nas encostas para a plateia assistir. A peça foi encenada com o mar como um dramático pano de fundo, um grande sucesso. Ela resolveu incrementar o teatro, trabalhando ao longo de todos os invernos de sua vida, para que as performances pudessem acontecer em todos os verões. Continuou fazendo isso até sua morte, em 1983, com 89 anos.

Todos os anos, entre a Páscoa e Setembro, uma temporada de 20 peças é produzida por companhias de teatro do UK e dos Estados Unidos. O teatro é aberto para o público e é, com certeza, uma das atrações mais extraordinariamente lindas e desconcertantes do Reuno Unido.

Povo adorável, simpático e receptivo

A simplicidade, o sotaque, o sorriso fácil, a conexão com a terra e o mar, uma história única e ancestral, uma identidade inconfundível: tudo isso caracteriza uma população que atrai naturalmente e inevitavelmente a simpatia dos visitantes da Cornualha. A hospitalidade gentil e cordialidade nos encontros com estranhos deixam qualquer pessoa muito à vontade nesta região tão única do Reino Unido.

Como se não bastasse tudo que a Cornualha já tem.

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